Um Dia no Alto Delírio com a Elite do Mountain Bike
Eu e minha boca grande, não é?
Falei que o pedal no Alto Delírio não era para novatos mas que a elite poderia ir se quisesse, passear.
Cara, esse pessoal da elite não é só ralação não. Não é que apareceram alguns lá "para passear" pois haviam treinado ou competido no dia anterior.
Pois é, ocorre que nesse nosso mundo einsteniano, relatívistico, o que é passeio para uns pode ser tornar algo bem mais formidável para outros. Acabou que eu fui o único novato por aquelas bandas naquele dia ka ka ka ka...
Até então só havia feito o Delírio pela metade, a primeira vez eu fiz até o início do single durante a liberação das cinzas de Bob e depois até um pouco antes do empurra bike durante o GP de Montanha.
Em ambas as oportunidades não deu para compreender porque o Alto Delírio é uma trilha tão adorada pelos mountain bikers.
Dessa vez foi diferente.
Não sei o que passa na cabeça de cada um quando monta em sua bike e avança sobre trilhas, dificeis ou não.
Talvez para alguns tudo se resuma em quilometragem concluída e restante: já pedalei tanto e só falta um outro tanto para concluir.
Para outros talvez seja: eu consegui fazer essa parte e aquela outra quase consegui...sei lá.
Eu viajo nas trilhas, eu respiro e vivo cada momento.
Quando eu passo nas pedrinhas, no cascalho ao longo de um trecho, eu vejo a marca dos pneus, as depressões deixadas por alguém antes de mim.
As vezes eu tento me colocar no lugar daquele biker e tento fazer o que imagino que ele faria.
Nos descidões, aqueles que você para a bike um pouco antes para avaliar o quanto você vai se machucar se não der certo, quase posso ver um biker fazendo o descidão, como uma imagem fantasma, como uma projeção, descendo a trilha e saltando cada pedra, controlando a bike até o final da pirambeira.
Quando isso acontece, eu respiro fundo e tento seguir o biker, repetindo cada manobra.
Normalmente chego ao final inteiro, mas nem sempre.
Quando não consigo essa imagem então eu desço da bike. É como se fosseum aviso dizendo: não vai dar, cara. Talvez seja meu anjo da guarda, talvez eu seja louco ou muito imaginativo, talvez a sede e a fome alterem minha cabeça, cozinhe meus miolos, não sei e não me preocupo em descobrir.
Ao longo da trilha eu olho a paisagem, vejo os pássaros, as montanhas ao redor. E eu acho tudo tão bonito que parece que estou em um filme.Tenho uma sensação de paz indescritível enquanto estou na bike. Não importa a sede, o cansaço ou a fome.
É sempre muito bom.
E tem aquelas trilhas que parecem uma música, elas fluem ao longo de cada pedalada, um evento ligado ao outro.
Algumas trilhas não tem essa música e por isso eu não gosto delas, de algumas outras trilhas eu não gosto da música.
Mas existem trillhas que parecem um concerto, uma ópera rock.
O Alto Delírio foi assim nesse quarta-feira. Um Black Sabbath a todo volume. Alguns momentos de Pink Floyd e Vivaldi. Cada trecho uma emoção.
Meu anjo da guarda de olhos verdes e fala mansa as vezes a minha frente, as vezes na retaguarda, me mostrava o caminho e me explicava como fazer. Mas dessa vez esse anjo não estava na minha cabeça, era de carne, osso, alegria e paciência.
Ao seu lado, flanqueando a trilha, subindo morros e por vezes simplesmente parados aguardando minha chegada, outros bikers coloriam o lugar.
E de cada um deles aprendi alguma coisa. E tentei fazer igual.
Subi cada um daqueles morros pedalando. Nunca passou pela minha cabeça que conseguiria.
A gente consegue fazer muita coisa sozinho, não é mesmo? Mas cercadode amigos é mil vezes mais fácil. E mais divertido.
Durante o single tomei dois tombos. Fiquei meio raladinho mas não está doendo muito. Aquele single é muito louco.
Os morros ao redor gritam para serem admirados, eu não conseguia pedalar olhando somente o caminho. Os morros queriam falar comigo e assim, distraÍdo, respirando a natureza, fui caindo por lá.
Cheguei ao empurra bike e atravessei aquele belo single no meio domato. Parecia que tinha sido teleportado para outro lugar, a paisagem mudou quase instantaneamente, os morros ficaram invisíveis. Ao final dele meu anjo me pediu cuidado e eu, que já ia me arremessar morro abaixo naquela primeira descida técnica empurrei o primeiro trecho.
Foi melhor assim.
Depois eu vi o descidão pedreira, meus amigos elite desciam montados na bike, Eu só pude assistir.
Um dia eu volto lá pra descer em cima de minha bike também. Um dia eu quero fazer o Delírio todo pedalando.
As vezes me distraio tanto nas trilhas que simplesmente me perco do pessoal, aconteceu umas tantas vezes no Delírio e como eu não conhecia o caminho a galera tinha que me esperar um tempão até eu me localizar.
Desculpem :D.
E o famoso riozinho na fazenda? Tantas vezes falado. Aproveitei para lavar os raladinhos e esfriar a cabeça.
Aquele bando de adultos lá dentro parecia um monte de garotinhos e garotinhas, só faltavam as bóias de braço e os patinhos de borracha. Sentado ali naquele rio conversando pequenas coisas, despreocupado, eu voltei muitos anos no tempo.
Mountain bike parece criar esses túneis do tempo, você chega cansado do trabalho, cheio de preocupações, de deveres, então você sobe na sua magrela e o mundo imediatamente ganha cor, substância e juventude. Dependendo do lugar e com quem você está parece que a qualquer momento você vai ouvir sua vó lhe pedindo pra largar a bola e ir almoçar...e aí você grita "já vou, vovó!!" e some antes que ela venha lhe pegar pela orelha.
Ao pegar o estradão de volta, minha pilha começou a acabar e fui obrigado a me separar do pelotão, fiquei com meu bródi Ovinho que quebrou. Ele estava sem pedalar e retomou ao pedal fazendo o AltoDelírio, he he, adoro estar cercado de malucos, me sinto em casa!
Consegui chegar ao Caldeirão da Serra pedalando (55.71 Km). Ufa! Mas se não conseguisse não seria problema, meu anjinho já havia iniciado o resgate de carro e passou por mim para recolher Ovinho primeiro. Os outros aguardavam pacientemente eu chegar, felizes e despreocupados.
Quem diria...a elite aguardando a chegada de alguém como eu. A elite no resgate. A elite entre os mortais.
Acreditava ser isso uma impossibilidade, como parar o sol ou escapar da morte.
Muitos mitos caíram naquela quarta-feira.
Após esse pedal no Alto Delírio com a elite, minha vida sobre uma mountain bike ganhou outra perspectiva.
Eu também posso! Se me esforçar o suficiente. Se persistir. Treinar.
Meus amigos elite me mostraram isso.
Sem perder a humanidade, sem deixar os amigos pra trás.
Abraços,
Ricardo "Curupas"
Falei que o pedal no Alto Delírio não era para novatos mas que a elite poderia ir se quisesse, passear.
Cara, esse pessoal da elite não é só ralação não. Não é que apareceram alguns lá "para passear" pois haviam treinado ou competido no dia anterior.
Pois é, ocorre que nesse nosso mundo einsteniano, relatívistico, o que é passeio para uns pode ser tornar algo bem mais formidável para outros. Acabou que eu fui o único novato por aquelas bandas naquele dia ka ka ka ka...
Até então só havia feito o Delírio pela metade, a primeira vez eu fiz até o início do single durante a liberação das cinzas de Bob e depois até um pouco antes do empurra bike durante o GP de Montanha.
Em ambas as oportunidades não deu para compreender porque o Alto Delírio é uma trilha tão adorada pelos mountain bikers.
Dessa vez foi diferente.
Não sei o que passa na cabeça de cada um quando monta em sua bike e avança sobre trilhas, dificeis ou não.
Talvez para alguns tudo se resuma em quilometragem concluída e restante: já pedalei tanto e só falta um outro tanto para concluir.
Para outros talvez seja: eu consegui fazer essa parte e aquela outra quase consegui...sei lá.
Eu viajo nas trilhas, eu respiro e vivo cada momento.
Quando eu passo nas pedrinhas, no cascalho ao longo de um trecho, eu vejo a marca dos pneus, as depressões deixadas por alguém antes de mim.
As vezes eu tento me colocar no lugar daquele biker e tento fazer o que imagino que ele faria.
Nos descidões, aqueles que você para a bike um pouco antes para avaliar o quanto você vai se machucar se não der certo, quase posso ver um biker fazendo o descidão, como uma imagem fantasma, como uma projeção, descendo a trilha e saltando cada pedra, controlando a bike até o final da pirambeira.
Quando isso acontece, eu respiro fundo e tento seguir o biker, repetindo cada manobra.
Normalmente chego ao final inteiro, mas nem sempre.
Quando não consigo essa imagem então eu desço da bike. É como se fosseum aviso dizendo: não vai dar, cara. Talvez seja meu anjo da guarda, talvez eu seja louco ou muito imaginativo, talvez a sede e a fome alterem minha cabeça, cozinhe meus miolos, não sei e não me preocupo em descobrir.
Ao longo da trilha eu olho a paisagem, vejo os pássaros, as montanhas ao redor. E eu acho tudo tão bonito que parece que estou em um filme.Tenho uma sensação de paz indescritível enquanto estou na bike. Não importa a sede, o cansaço ou a fome.
É sempre muito bom.
E tem aquelas trilhas que parecem uma música, elas fluem ao longo de cada pedalada, um evento ligado ao outro.
Algumas trilhas não tem essa música e por isso eu não gosto delas, de algumas outras trilhas eu não gosto da música.
Mas existem trillhas que parecem um concerto, uma ópera rock.
O Alto Delírio foi assim nesse quarta-feira. Um Black Sabbath a todo volume. Alguns momentos de Pink Floyd e Vivaldi. Cada trecho uma emoção.
Meu anjo da guarda de olhos verdes e fala mansa as vezes a minha frente, as vezes na retaguarda, me mostrava o caminho e me explicava como fazer. Mas dessa vez esse anjo não estava na minha cabeça, era de carne, osso, alegria e paciência.
Ao seu lado, flanqueando a trilha, subindo morros e por vezes simplesmente parados aguardando minha chegada, outros bikers coloriam o lugar.
E de cada um deles aprendi alguma coisa. E tentei fazer igual.
Subi cada um daqueles morros pedalando. Nunca passou pela minha cabeça que conseguiria.
A gente consegue fazer muita coisa sozinho, não é mesmo? Mas cercadode amigos é mil vezes mais fácil. E mais divertido.
Durante o single tomei dois tombos. Fiquei meio raladinho mas não está doendo muito. Aquele single é muito louco.
Os morros ao redor gritam para serem admirados, eu não conseguia pedalar olhando somente o caminho. Os morros queriam falar comigo e assim, distraÍdo, respirando a natureza, fui caindo por lá.
Cheguei ao empurra bike e atravessei aquele belo single no meio domato. Parecia que tinha sido teleportado para outro lugar, a paisagem mudou quase instantaneamente, os morros ficaram invisíveis. Ao final dele meu anjo me pediu cuidado e eu, que já ia me arremessar morro abaixo naquela primeira descida técnica empurrei o primeiro trecho.
Foi melhor assim.
Depois eu vi o descidão pedreira, meus amigos elite desciam montados na bike, Eu só pude assistir.
Um dia eu volto lá pra descer em cima de minha bike também. Um dia eu quero fazer o Delírio todo pedalando.
As vezes me distraio tanto nas trilhas que simplesmente me perco do pessoal, aconteceu umas tantas vezes no Delírio e como eu não conhecia o caminho a galera tinha que me esperar um tempão até eu me localizar.
Desculpem :D.
E o famoso riozinho na fazenda? Tantas vezes falado. Aproveitei para lavar os raladinhos e esfriar a cabeça.
Aquele bando de adultos lá dentro parecia um monte de garotinhos e garotinhas, só faltavam as bóias de braço e os patinhos de borracha. Sentado ali naquele rio conversando pequenas coisas, despreocupado, eu voltei muitos anos no tempo.
Mountain bike parece criar esses túneis do tempo, você chega cansado do trabalho, cheio de preocupações, de deveres, então você sobe na sua magrela e o mundo imediatamente ganha cor, substância e juventude. Dependendo do lugar e com quem você está parece que a qualquer momento você vai ouvir sua vó lhe pedindo pra largar a bola e ir almoçar...e aí você grita "já vou, vovó!!" e some antes que ela venha lhe pegar pela orelha.
Ao pegar o estradão de volta, minha pilha começou a acabar e fui obrigado a me separar do pelotão, fiquei com meu bródi Ovinho que quebrou. Ele estava sem pedalar e retomou ao pedal fazendo o AltoDelírio, he he, adoro estar cercado de malucos, me sinto em casa!
Consegui chegar ao Caldeirão da Serra pedalando (55.71 Km). Ufa! Mas se não conseguisse não seria problema, meu anjinho já havia iniciado o resgate de carro e passou por mim para recolher Ovinho primeiro. Os outros aguardavam pacientemente eu chegar, felizes e despreocupados.
Quem diria...a elite aguardando a chegada de alguém como eu. A elite no resgate. A elite entre os mortais.
Acreditava ser isso uma impossibilidade, como parar o sol ou escapar da morte.
Muitos mitos caíram naquela quarta-feira.
Após esse pedal no Alto Delírio com a elite, minha vida sobre uma mountain bike ganhou outra perspectiva.
Eu também posso! Se me esforçar o suficiente. Se persistir. Treinar.
Meus amigos elite me mostraram isso.
Sem perder a humanidade, sem deixar os amigos pra trás.
Abraços,
Ricardo "Curupas"
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