segunda-feira, novembro 28, 2005

Feliz Natal!!!

PS: É meio grande...e meio sem nexo, eu sei...estou tentando me controlar, mas não consigo, o terapeuta está quase desistindo de mim :o( mas para facilitar eu informo que o "Feliz Natal" está lá no finalzinho do texto, podem pular o "começo" se quiserem :o)

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Quando eu era criança, tinha uns onze anos, eu comecei a me interessar por questões místicas, crenças, essas coisas. Na minha família sempre foi postura de minha mãe e meu pai um relacionamento meio largado com a religiosidade. Cada um seguia um rumo próprio.

Eu, desde que aprendi a ler, sempre adorei os livros, devorava (e devoro) tudo que me caía nas mãos.

Li a Bíblia, não entendi nada, li umas três vezes, gostei daquele negócio do céu e tal. Bacana. Quem sabe não passaria Sítio do Pica-Pau Amarelo toda hora e eu tivesse um estoque ilimitado daqueles caramelos que eu gostava tanto. Bom demais.

Bem, pra chegar lá a pessoa não podia ser pecadora senão iria imediatamente pro inferno. Na minha cabeça pra eu ir pro céu eu não podia ter muitos pecados.

Eu acreditava que as pessoas devem ter alguns créditos de pecados que poderiam ser cometidos ao longo de sua existência e se o saldo fosse bom o céu estaria no papo.

Pensei, pensei, e cheguei a conclusão que eu cometia entre quatro a sete pecados por dia. Por exemplo: não comer os matinhos que vinha no prato, jogar fora pão, não deixar sobremesa pros meus irmãos, puxar o cabelo da minha irmã, ficar jogando bola o dia todo e não tomar banho
direito...essas coisas.

Considerando que eu iria viver até ficar bem velhinho, uns trinta e cinco anos, seriam cerca de noventa mil pecados no total.

Fiquei feliz. Achei que cem mil pecados era o limite, um número bonito. E eu ainda tinha um crédito de dez mil pecados para usar aqui e ali em emergências. Era um bom garoto mesmo.

Por desencargo de consciência fui checar minhas contas com minha mãe. Aí ela me arrasou, disse que bastava um único pecado para eu ir para o inferno.

Nossa! Eu já havia cometido uns 28 mil!

Já era.

Mas minha mãe explicou que Deus era bondoso e que se eu me arrependesse dos meus pecados todos eles seriam perdoados e eu iria ganhar meu lugar no céu.

Naquela época falhei em compreender o sentido da palavra "arrependimento" em toda a sua extensão e profundidade.

Espertamente imaginei que poderia manter minha conduta pecadora e no final de minha vida arrepender-me de tudo, burlar Deus e ganhar meu lugarzinho especial pra assistir TV por toda a eternidade.

Confesso! Apoiado nesse raciocínio levei uma vida "criminosa" e pecadora por muitos anos. Cresci praticamente sem comer quase nenhum matinho, torturei as bonecas de minha irmã com "neurocirurgias" inenarráveis e só recentemente aprendi a tomar banho corretamente.

Mas os anos passam. Você amadurece e a luz dessa experiência você passa a modificar velhos pensamentos outrora muito arraigados, as vezes lentamente, as vezes mais rapidamente.

Muitos anos depois estou eu aqui relembrando isso e pensando em como a vida ela própria é carregada de mistérios e como nós temos que viver essa vida da melhor maneira possível, sendo feliz sem magoar ninguém e cometendo o menor número de "pecados" humanamente possível.

Não é fácil não, mesmo para a alma mais bem intencionada.

Viver é quase como um jogo de dados coletivo, quando as peças rolam a sorte está lançada. Você pode se esforçar, sacudir a mesa, tentar virar um dado mas as vezes aquele resultado parece que já estava predestinado.

Você é senhor do seu destino? As vezes sim, as vezes não.

E você continua vivendo e torcendo para que no final tu dê certo, igual aquele garoto de onze anos que não queria perder nunca um episódio do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Porém, nem tudo é como a gente sonha.

Dia 26/12/2004, uma data curiosamente próxima ao Natal, eu passei a conhecer pessoas que para sempre irão fazer parte da minha vida e eu sou muito grato por esse acontecimento. Algumas dessas pessoas me conhecem um pouco mais, outras um pouco menos. Nesse meio tempo fortaleci alguns laços de amizade enquanto outros foram quebrados.

É a vida seguindo seu caminho. Parece que está dando certo, apesar dos atropelos :o)

Eu quero aproveitar e dizer para todos vocês, independente do que pensam de mim, de me conhecerem ou não, membros do Rebas do Cerrado, do Mountain Bike Brasilia, do Pedal Noturno DF, das inúmeras pessoas gente boa espalhadas em todos os cantos do DF e que como eu, amam o mountain bike, a natureza, a beleza e a paz de espírito, eu quero dizer que vocês todos são meus irmãos de alma, e que meu presente de Natal do ano passado, desse ano e certamente de todos os anos futuros de minha vida é estar ao lado de vocês, de preferência em cima de uma mountain bike, em qualquer pelotão.

Viver é um filme que só passa uma vez. Sem roteiro, sem remakes. Vamos aproveitá-la o melhor possível e vamos dar um voto de confiança aos nossos semelhantes, as vezes as coisas não podiam ter acontecido de outra maneira, para ambas as partes.

Feliz Natal para todos! Tudo de bom, muito paz no coração e todos os sonhos que quiserem.

Ricardo "Curupas"

1 Comments:

Anonymous regina stella said...

desconhecido irmão,
tenho sentido cada vez mais que outros pedalantes tem a mesma sensação de que esta vida de cicloviajante nos leva ao encontro dos nossos elos perdidos, espalhados por aí neste mundão.
Cada parada em um lugar novo encontro pessoas tão queridas que só posso acreditar que realmente somos todos irmãos,(descobri o óbvio)... talves por nos encontrarmos quando estamos fragilizados e no limite das nossas forças nos deixem como uma antena parabólica receptora de pessoas no seu estado mais puro de compaixão pelo próximo.
Me sinto cada vez mais "verde", em contato com o sagrado.
Faz tão pouco tempo que começamos, eu e meu marido e já temos isto muito forte dentro de nós, acho que finalmente encontramos as pessoas da nossa espécie.
Um grande e profundo abraço,

Regina Stella- santo andré - sp

5:39 PM  

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